terça-feira, 5 de setembro de 2023

JOGOS OLÍMPICOS DE MONTREAL 1976


 

Lanny Bassham

A glória do vencedor

A partilha da vitória

 

 

 

Uma despudorada verdade - um atleta só o é, na completa acepção da palavra e da realidade, quando a par das suas capacidades técnicas, alia as de um homem de carácter – porém, esta afirmação se esvai quando os são princípios do desporto são, completamente desvirtuados e muitos atletas são permeáveis a processos incorretos e podem vender a alma ao diabo em busca da suprema exultação da vitória.

Foi um momento muito especial com a atenção assistente centrada naquela cerimónia final de atribuição de prémios, um pódio e três atletas no crucial momento de ver compensada a sua actuação. No topo, Lanny Bassham (EUA), pronto a receber a medalha de ouro da prova de “carabina de pequeno calibre em três posições”, na prata Margareth Murdock (EUA), e no bronze Werner Seibold (RFA).


No preciso momento em que começa a soar o hino americano, o atleta laureado e declarado vencedor, num gesto rápido mas decisivo, amarra a atleta do segundo lugar e puxa-a para junto de si e ambos escutam o símbolo do seu país. Assim foi até ao fim, com o público surpreso mas encantado com o gesto.

Porquê?

No fim da disputa, dos muitos tiros de carabina, nas três posições impostas, de pé, de joelhos e deitados, o júri contabilizou os pontos dos atiradores e verificou um empate técnico nos dois primeiros, Lanny Bassham, um homem, e Margareth Murdock, uma mulher, por sinal ambos do mesmo país.

Decorriam as provas de tiro dos Jogos Olímpicos de Montreal, em 1976.

Após um exaustivo exame aos alvos de ambos, os juízes declararam Lanny Murdock como vencedor. De imediato este dirigindo-se aos homens que declararam o veredicto sugeriu que a medalha de ouro fosse repartida por ele e pela Margareth que tinha sido relegada para o segundo posto e na realidade, nenhum tinha sido melhor do que o outro!

Solicitação indeferida.

Insatisfeito acabou por se submeter à decisão dos juízes.

Este homem foi campeão mundial em 1974 e 1978, venceu por três vezes os Jogos Pan-Americanos e vinte e duas vezes campeão americano. Seria posteriormente a Director de Tiro da Selecção Americana aos Jogos Olímpicos. Criou uma empresa que promovia cursos de ensino de gestão ambiental para empresários e atletas, caso de alguns jogadores profissionais de golfe. Foi também criador de cavalos.

Aquela cena do pódio, uma atitude improvável nos tempos que correm!

 

Autor: ILÍDIO TORRES

Membro da Academia Olímpica

Comité Olímpico de Portugal

sábado, 2 de setembro de 2023

 

JOGOS OLÍPICOS DE TÓQUIO 1964

 

Lars Gunnar Kall e Stig Lennart Kall

O fair-play que superou o sabor da vitória



 

 

 

A partir de 1964, o Comité Olímpico Internacional tem, à sua disposição, um instrumento capaz de premiar todos aqueles que demonstrassem comportamentos, a todos os níveis raros e ligados ao que poderíamos apelidar de desportivismo – a filosofia que Pierre de Coubertin advogou inserida no verdadeiro espírito olímpico.

Devido a esse comportamento, já alguns foram premiados com tal distinção.

Lars Gunnar Kall e Stig Lennart Kall, dois velejadores suecos, irmãos e amantes do desporto, protagonizaram um dos mais extraordinários atos desse exemplo e espírito.

No decurso de uma prova olímpica, na modalidade de vela, entregues à tarefa de manobrar a sua embarcação como os demais, buscavam a melhor classificação, a fim de cortar a linha de chegada para vencer a regata - mais uns pontos a juntar para a classificação final.

Em determinado momento, foram confrontados com um inesperado acontecimento - acabavam de verificar que a equipa australiana, constituída por John de Dawe e Ian Winter, tinha naufragado, e a embarcação encontrava-se, completamente, virada. De imediato, os velejadores suecos tomaram consciência de que os seus adversários se encontravam numa situação muito perigosa a necessitar de ajuda imediata que não estava ao alcance da equipa de apoio oficial. Ma verdade, os australianos encontravam-se num momento, tremendamente, angustiante, um ainda a tentar vencer a força do mar e o outro agarrado à embarcação.


Os suecos alhearam-se completamente da prova que estavam a disputar e viraram o seu barco em direcção aos dois necessitados australianos que foram socorridos de imediato, primeiro o Winter e depois o Dawe, metidos no Hayama, o barco sueco.

O acto de coragem de ambos redundou na perda da regata mas na salvação dos australianos, apreciado em todo o mundo. A referida regata de qualificação iria ser vencida pela Nova Zelândia, seguida da Grã Bretanha e dos Estados Unidos.


Autor: ILÍDIO TORRES

Membro da Academia Olímpica de Portugal

Comité Olímpico de Portugal