segunda-feira, 21 de agosto de 2023

JOGOS OLÍMPICOS DE ESTOCOLMO 1912

 

Cecil Healy

Uma segunda oportunidade                         


 


Um acontecimento intragável para o fanatismo e a ambição de alguns considerados desportistas de eleição, para quem a conquista da vitória é um objectivo único, mesmo à custa de tropeções na ética desportiva, nos mais sãos princípios da bandeira que Pierre de Coubertin defendia.
Todavia, quando chega à altura de o provar!
Aconteceu nos Jogos Olímpicos de Estocolmo, em 1912, disputados num espaço de tempo de vinte e quatro dias seguidos. Esta particularidade emprestou aos Jogos uma nova imagem para além do cuidado que os suecos dispensaram na sua preparação e execução.
Ainda afectadas pela concepção que o seu idealista havia bebido na filosofia dos da Antiguidade, os de Estocolmo foram adornados ainda de provas culturais que à luz dos princípios modernos podem gerar pensamentos surrealistas mas que, no mais profundo do âmago grego da Antiguidade, tinham perfeito cabimento. As ditas manifestações culturais em Estocolmo andaram pela área da pintura e da poesia.
Mas, o que nos motivou, concretamente, diz respeito a um acto de cavalheirismo, no mais alto grau de desportivismo.
Cecil Healy, foi um nadador australiano, inserido numa elite de campeões australianos, que protagonizou um dos mais bonitos gestos desportivos.
Na prova dos 100 metros livres, os australianos temiam a concorrência americana, uma equipa favorita à vitória final. Na piscina, o então nadador australiano Cecil Healy, especialista naquela distância e estilo, preparava-se para lutar pela medalha de ouro. Entretanto a organização havia dado pela ausência da equipa americana que ainda não havia chegado à piscina e onde todos aguardavam já com alguma inquietude.
Quando os americanos se apresentaram na área da piscina já o Júri responsável havia deliberado a vitória da equipa australiana. De imediato, os responsáveis americanos tentaram uma justificação afirmando ter havido um contratempo, uma falta involuntária aos horários. Como a equipa organizador da área das provas de natação se mostrou irredutível, os americanos apelaram a um júri especial, uma espécie de última instância.
Aqui reside o ponto crucial e futura da questão.


Cecil Healy

O nadador australiano Hearly como representante da equipa australiana solicitou ao Júri de recurso que atendesse às justificações dos americanos e com tal veemência que foram autorizados a participar na final dos 100 metros livres. Uma oportunidade para recordar que dessa equipa americana fazia parte o célebre Duke Kahanamoku, um nadador havaiano que liderava o topo das tabelas mundiais.
Temos de convir que os australianos teriam a tarefa facilitada e venceriam essa final beneficiando da ausência da equipa americana.
A final foi disputada e foi vencida pelo referido Duke, seguido do australiano Cecil Healy e em terceiro Kenneth Huszag também dos Estados Unidos.
Conclusão: os australianos ao solicitarem ao Júri que permitisse a inclusão dos americanos que  acabaram por perder a final daqueles 100 metros livres.
O mais impressionante haveria de acontecer.



No final da prova, o público assistente, de pé, aplaudiu freneticamente, a equipa australiana, a derrota de Healy, um homem que iria interromper a sua carreira por motivo da Primeira Guerra Mundial, conflito em que foi integrado.
Morreu em combate, faltava pouco tempo para a assinatura do armistício – perdeu-se um desportista, um campeão!
Healy tinha-se alistado, em Setembro de 1915, na denominada Força de Defesa Australiana e serviu a pátria no Egipto e na França como intendente no posto de sargento. Frequentou um curso para oficiais em Cambridge e seguiu a carreira militar como segundo tenente em Junho de 1918. Morreu em combate na Batalha de Somme.
 



Autor: Ilídio Torres
Membro da Academia Olímpica de Portugal

Órgão do Comité Olímpico de Portugal

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