segunda-feira, 21 de agosto de 2023

JOGOS OLÍMPICOS DE LONDRES 1908

 

DORANO PIETRI

Um pasteleiro com sorte!

 

Não tenho medalha, nem diploma, nem uma coroa de louro

para lhe dar, senhor Pietri, mas, para que não leve só más

recordações do nosso país, receba esta taça de ouro, como

prova da nossa admiração pelo seu comportamento”.

(Rainha Alexandra - no Estádio)

 

 


 

 

A prova mais exigente e difícil.

Alguns quilómetros por vencer ainda e os atletas a evidenciarem, com mais intensidade, os efeitos de tão penoso esforço.

Decorria a prova da Maratona de Londres, 1908, a quarta edição dos Jogos Olímpicos e a temperatura ambiente que se fazia sentir nessa derradeira semana de Julho, quiçá inesperada naquele ambiente londrino, começava a evidenciar no esforço e na energia despendida. Nitidamente cansados, os atletas acusavam já uma notória desidratação, uma menos valia para a distância que ainda faltava percorrer mas que, a muito custo, ia sendo cumprida - assim até ao fim, pelo menos para os que conseguiram cumprir tão grande distância.

Por essa altura, um atleta arrastava-se com a meta muito próxima, quase à vista. Havia alcançado a frente da corrida e no comando já, tinha os olhos assestados naquele tão desejado fim, ali tão perto. Alcançada a porta do estádio, completamente trôpego, enfiou-se pelo lado errado - estatelou-se, desamparado, no início da pista. Recebeu, de imediato, a presença de alguns juízes mais interessados em valer ao infeliz do que cumprir o seu papel.

O público assistente mexeu-se no estádio e já só tinha olhos naquele ser humano, o italiano Dorando Pietri que continuou a receber a ajuda dos juízes de chegada e até de responsáveis médicos em serviço. Foram, mais quatro, as vezes que voltou a tombar na pista e tantas as que voltou a levantar-se, um último esforço em direcção à meta que acabou por alcançar, amparado por um juiz e um médico.

Após cortá-la desmaiou mesmo e foi transportado em maca para o posto de socorros.

O italiano completava a prova com um tempo de duas horas, cinquenta e quatro minutos e quatro segundos mas, para os derradeiros quinhentos metros foram necessários quase dez minutos! Era o vencedor da Maratona e o segundo a chegar foi o norte-americano Johnny Hayes.

O presumível vencedor, o italiano Dorando Pietri, nascido em 15 de Outubro de 1885, era oriundo de uma família de camponeses que, em 1879, se radicou em Capri com a intenção de se dedicar ao comércio de frutas e legumes - pai, mãe e quatro filhos - um deles, o Dorando, entrar no ofício de padeiro. O jovem tinha duas paixões: a bicicleta e correr a pé pelas ruas de Capri, um gosto que mais se acentuou um dia em que foi assistir a uma prova local que incluía um dos mais famosos de então, o italiano Péricles Pagliani. Assistente, entusiasmado, em determinado momento, não resistiu e desatou a correr ao lado do ídolo italiano, vestido como estava, sem qualquer adereço desportivo. Teimoso, resistiu e cortou a meta ao lado de Pericles. Esta louca experiência seria o embalo futuro para a sua inscrição numa prova de três mil metros a realizar em Bolonha. Participou e ficou em segundo lugar – foi o tiro de partida para uma futura entrega às corridas. Deu, então início a uma espécie de plano de treinos e daí os seus primeiros triunfos, em Itália e na França. Foi experimentando maiores distâncias até que, em 1906, ficou apurado para uma espécie de Jogos Olímpicos Intermédios a realizar em Atenas, uma prova em que desistiu. Seguiram-se mais participações e mais vitórias até atingir o topo do fundo italiano – foi a sua carta de recomendação para Londres.Il 2 aprile 1906 Pietri vinse la maratona di qualificazione per i Giochi olimpici intermedi , che si sarebbero svolti in estate ad Atene , con il tempo di 2 ore e 48 minuti. Purtroppo nella gara di Atene fu costretto a ritirarsi al 24º chilometro per problemi intestinali, quando era al comando con 5 minuti di vantaggio sugli inseguitori.

Nel 1907 riportò numerose vittorie, tra le quali i titoli dei 5000 metri ai Campionati italiani (con il primato nazionale di 16'27"2) e dei 20 km. Ormai Dorando Pietri era il dominatore assoluto del fondo nazionale, in grado di vincere dal mezzofondo alla maratona, ed aveva già ottenuto risultati importanti sulla scena internazionale.A prova da Maratona teve lugar no dia 24 de Agosto de 1908 e o tiro da partida foi dado junto a uma varanda do Castelo de Windsor por Lord Desborought. Logo no início, Dorando Pietri, tomou a dianteira e deu a entender que estava apostado em ganhar a corrida. Dez quilómetros vencidos, quatro atletas seguiam isolados: o italiano em questão, os britânicos Lord e Price e o sul-africano Hefferson. Pouco tempo depois os ingleses encostaram ao passeio e decidiram terminar ali a sua aventura. Por sua vez, o sul-africano, suando por quantos poros tinha, resolveu aceitar uma bebida refrescante que um espectador mais entusiasmado lhe proporcionou – uma garrafa de champanhe! A menos de meia milha do estádio não aguentou uma forte dor de barriga – o espumante havia-lhe provocado uma tremenda volta nos intestinos – ficou para trás!

Foi então que o italiano livre de concorrência forçou o andamento mas “gripou os rolamentos”.

O pior estava pata acontecer.

Apesar de vitoriado e tido como vencedor da Maratona, choveram os protestos e a guerra instalou-se na secretaria. Os dirigentes norte- americanos pediram a desqualificação do italiano denunciando o comportamento da chegada como anti-regulamentar, mais concretamente o comportamento dos juízes de pista e dos médicos de serviço. Cientes da consistência da reclamação dos responsáveis americanos, outro facto aconteceria: convencidos de que o pasteleiro iria ser desclassificado, Hayes saiu do Estádio Olímpico aos ombros dos seus compatriotas e aclamado campeão da maratona!

Entretanto, o pobre do italiano estava entre a vida e a morte.

E Dorando perdeu mesmo a corrida devido à desclassificação.

No dia seguinte, o nosso homem já recuperado e livre de ter embarcado “desta para melhor” compareceu no Estádio e ouviu da própria Rainha Alexandra as seguintes palavras que iriam modificar por completo a sua vida futura: “ Não tenho medalha, nem diploma, nem uma coroa de louro para lhe dar, senhor Pietri, mas, para que não leve só más recordações do nosso país, receba esta taça de ouro, como prova da nossa admiração pelo seu comportamento”.

Entusiasmado o italiano deu uma volta de honra ao Estádio vibrantemente aclamado pelo público como se fosse o verdadeiro campeão olímpico da maratona.

O jornal londrino Daily Mail abriu uma subscrição pública que rendeu 300 libras, uma importância muito grande para a época. Posteriormente, Dorando enveredou pelo profissionalismo no atletismo. Numa das viagens que efectuou aos Estados Unidos, voltou a correr a maratona e a ganhar a John Hayes por duas vezes, em 1908 e 1909.





Foi considerado um dos grandes maratonistas de todos os tempos.

Acabou a vida não se sabe como, dizem que como motorista de táxi, na cidade italiana de Capri, sem um vintém, vítima de um golpe financeiro de um seu irmão de sangue – outros dizem que não, pois acabou rico e dono de uma cadeia de lojas dedicadas à pastelaria.

Um homem de sorte!


"Autor: Ilídio Torres, 

Membro da Academia Olímpica de Portugal, 

órgão do Comité Olímpico Português."

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