quinta-feira, 24 de agosto de 2023

 JOGOS OLÍMPICOS DE LOS ANGELES 1932

 

Um triunfo repartido

Uma medalha cortada ao meio!




Sentença de Saomão, um campeão frustrado!

Participar, vencer e ser distinguido – subir ao pódio, escutar o hino do seu país e receber o tão almejado ouro - a competição, a vitória e o reconhecimento na cerimónia, o fim e o … regresso a casa com o tão apetecido prémio.

Assim não aconteceu com Lauri Lehtinen.

Finda a sua prestação atlética, insatisfeito, rumou a casa, para a sua Finlândia, com os neurónios esticados, a rebentar. A sua consciência era uma autêntica bigorna onde, em marteladas constantes, algo o inquietava. Partia dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1932, com uma medalha de oiro na bagagem, a dos 5 000 metros, uma prova que disputara até ao final, até ao milésimo de milímetro! Fora considerado vencedor e ao seu mais directo adversário, o norte-americano Ralph Hill, subordinado ao mais estranho dos julgamentos do cronómetro foi-lhe atribuído o mesmo tempo!

Trazia ainda vivo na memória o desagradável momento em que já no pódio, a cerimónia foi ensombrada pelos apupos do estádio, um público afecto ao seu compatriota Hill. Na verdade, ambos haviam cortado a meta, ombro a ombro, mas na plena demonstração da mais alta nobreza do seu carácter, o americano, ele mesmo, havia recusado apresentar um protesto pela decisão dos juízes. Perante aquela reação popular, Lauri ainda esboçou e tentou mesmo trocar de lugar no pódio, reconhecendo a Hill o direito ao ouro – o americano recusou, afirmando que não estava em causa a prata ou o ouro!

Comportamentos, hoje, impensáveis!

Lauri Lehtinen, o atleta em questão, haveria, de posteriormente, protagonizar uma das mais estranhas mas compreensíveis atitudes, a de querer repartir o triunfo com o seu adversário vencido, o tal Ralph Hill. Foi uma extraordinária decisão que o haveria de marcar no futuro, pois desde a cerimónia de atribuição do prémio que, dentro de si, se desencadeou um autêntico massacre.

E o porquê de tal estado de espírito?

Na disputa da prova e no espaço habitualmente designado por recta final, escolhido pelos atletas para o ataque decisivo, Lauri havia-o feito aos ziguezagues, uma atitude aceite na Europa mas não tolerada na América, acabando então o público assistente que enchia o Estádio Olímpico por vaiar o finlandês!

Dizem que, quando aportou à Finlândia, com uma intenção suficientemente amadurecida, buscou um serralheiro e pediu-lhe que serrasse a medalha ao meio!

Sim, dividida em duas partes iguais! 




Não sei de que modo mas a verdade é que Hill recebeu em casa o tão especial presente e uma mensagem na qual se explicava que a vitória fora dos dois e que, na hipótese de não haver duas medalhas, lhe enviava a sua parte.

Quatro anos volvidos e novos Jogos Olímpicos, os de Berlim, em 1936 - Lauri Lehtinen voltou a ser selecionado e a disputar a final dos 5 000 metros, desta feita tendo como principal opositor o seu compatriota Gunnar Hockert que se tinha já afirmado como um autêntico campeão, detentor de vários recordes mundiais. Lauri foi vencido por Gunnar , um infeliz que haveria de ver a sua carreira desportiva, subitamente, interrompida, acabada mesmo, devido a problemas súbitos de reumatismo que o impossibilitaram para sempre de praticar a modalidade. Procurou a consolação noutros combates que não os das pistas dos estádios - num gesto patriótico inscreveu-se como voluntário no exército e foi incorporado num destacamento destinado a combater o denominado Exército Vermelho, os Russos, na guerra do Istmo de Carélia, onde haveria de encontrar a morte.



Este acontecimento iria abalar o amor-próprio de Lauri que, noutro gesto também muito singular, ofereceu a sua medalha de prata, a do segundo lugar da passada final que havia disputado com ele nos referidos Jogos Olímpicos de Berlim, a um soldado companheiro do morto – uma homenagem em que o sentimento pátrio se sobrepôs a todas as medalhas.

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