JOGOS OLÍMPICOS DE LOS ANGELES 1932
Um triunfo
repartido
Uma medalha cortada ao meio!
Sentença de Saomão, um campeão frustrado!
Participar, vencer e ser distinguido – subir ao pódio,
escutar o hino do seu país e receber o tão almejado ouro - a competição, a
vitória e o reconhecimento na cerimónia, o fim e o … regresso a casa com o tão
apetecido prémio.
Assim não aconteceu com Lauri Lehtinen.
Finda a sua prestação atlética, insatisfeito, rumou a
casa, para a sua Finlândia, com os neurónios esticados, a rebentar. A sua
consciência era uma autêntica bigorna onde, em marteladas constantes, algo o inquietava.
Partia dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1932, com uma medalha de oiro na
bagagem, a dos 5 000 metros, uma prova que disputara até ao final, até ao milésimo
de milímetro! Fora considerado vencedor e ao seu mais directo adversário, o
norte-americano Ralph Hill, subordinado ao mais estranho dos julgamentos do
cronómetro foi-lhe atribuído o mesmo tempo!
Trazia ainda vivo na memória o desagradável momento em
que já no pódio, a cerimónia foi ensombrada pelos apupos do estádio, um público
afecto ao seu compatriota Hill. Na verdade, ambos haviam cortado a meta, ombro
a ombro, mas na plena demonstração da mais alta nobreza do seu carácter, o americano,
ele mesmo, havia recusado apresentar um protesto pela decisão dos juízes.
Perante aquela reação popular, Lauri ainda esboçou e tentou mesmo trocar de
lugar no pódio, reconhecendo a Hill o direito ao ouro – o americano recusou,
afirmando que não estava em causa a prata
ou o ouro!
Comportamentos, hoje, impensáveis!
Lauri Lehtinen, o atleta em questão, haveria, de
posteriormente, protagonizar uma das mais estranhas mas compreensíveis
atitudes, a de querer repartir o triunfo com o seu adversário vencido, o tal
Ralph Hill. Foi uma extraordinária decisão que o haveria de marcar no futuro,
pois desde a cerimónia de atribuição do prémio que, dentro de si, se
desencadeou um autêntico massacre.
E o porquê de tal estado de espírito?
Na disputa da prova e no espaço habitualmente designado
por recta final, escolhido pelos atletas para o ataque decisivo, Lauri havia-o
feito aos ziguezagues, uma atitude aceite na Europa mas não tolerada na América,
acabando então o público assistente que enchia o Estádio Olímpico por vaiar o
finlandês!
Dizem que, quando aportou à Finlândia, com uma intenção suficientemente
amadurecida, buscou um serralheiro e pediu-lhe que serrasse a medalha ao meio!
Sim, dividida em duas partes iguais!
Não sei de que modo mas a verdade é que Hill recebeu em
casa o tão especial presente e uma mensagem na qual se explicava que a vitória
fora dos dois e que, na hipótese de não haver duas medalhas, lhe enviava a sua
parte.
Quatro anos volvidos e novos Jogos Olímpicos, os de
Berlim, em 1936 - Lauri Lehtinen voltou a ser selecionado e a disputar a final
dos 5 000 metros, desta feita tendo como principal opositor o seu compatriota
Gunnar Hockert que se tinha já afirmado como um autêntico campeão, detentor de
vários recordes mundiais. Lauri foi vencido por Gunnar , um infeliz que haveria
de ver a sua carreira desportiva, subitamente, interrompida, acabada mesmo,
devido a problemas súbitos de reumatismo que o impossibilitaram para sempre de
praticar a modalidade. Procurou a consolação noutros combates que não os das
pistas dos estádios - num gesto patriótico inscreveu-se como voluntário no
exército e foi incorporado num destacamento destinado a combater o denominado
Exército Vermelho, os Russos, na guerra do Istmo de Carélia, onde haveria de
encontrar a morte.
Este acontecimento iria abalar o amor-próprio de Lauri
que, noutro gesto também muito singular, ofereceu a sua medalha de prata, a do
segundo lugar da passada final que havia disputado com ele nos referidos Jogos
Olímpicos de Berlim, a um soldado companheiro do morto – uma homenagem em que o
sentimento pátrio se sobrepôs a todas as medalhas.
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