JOGOS
OLÍMPICOS DE PARIS 1900
Michel Theato
A maratona – “um vencedor contestado”
As quatro dezenas de quilómetros prestes a serem
cumpridas, um esforço fora do comum – ânimo recuperado e o atleta a parecer ganhar
forças quando vislumbrou a meta naquela prova da Maratona dos Jogos Olímpicos
de Paris, em 1900.
O presumível vencedor, um campeão olímpico, haveria de
sofrer o mais estranho dos choques quando, após cortar a linha da chegada, levantou
os braços a denunciar uma natural e justificada expressão de alegria e
satisfação.
Estranhamente, para ele, o pior estaria para acontecer
quando tomou consciência de que a receção por ele esperada, nada tinha a ver
com as habituais manifestações de júbilo – caladinho que nem um peto.
De imediato, buscou uma justificação para tão estranho
comportamento e quase desfaleceu quando o informaram que era o quinto
classificado!
Impossível!
A exclamação solta por Arthur Newton, o desesperado e
desiludido atleta, repetida, tantas as vezes, quantas as forças lho permitiram.
Algum tempo decorrido, já mais calmo, abeirou-se dos juízes de chegada e
disse-lhes que a partir de determinada parte do percurso deixou o pelotão para
trás e mais ninguém, até ao fim da prova, lhe passou à frente!
De imediato se apercebeu que, face às informações
recebidas e aos resultados apontados, alguém havia percorrido outro caminho que
não o oficial, encurtou a distância e zarpou para a meta – quatro, em seu
entender, foram os prevaricadores, ajudados ou não por alguém, chegaram à sua
frente!
Neste clima de desconfiança ou não aceitação do
resultado, um outro atleta norte-americano, Richard Grant, foi também denunciar
à organização que, em determinado momento da prova, foi ultrapassado pelo já
anunciado, Michel Theato, montado numa bicicleta!
O certo é que o luxemburguês, a representar a França,
foi mesmo considerado vencedor e as reclamações efectuadas não foram atendidas.
Uma história a rondar o anedótico, prenhe de fantasia
ou uma invenção.
Esta
prova da Maratona dos Jogos Olímpicos de Paris, em 1900, parece ter deixado
dúvidas ou desconfianças relativamente ao seu vencedor, Michel Theato, um
cidadão luxemburguês que muito novo, com doze anos, emigrou para França e
acabaria por ser inscrito como francês!
Quem
mais barafustou contra a vitória do francês emprestado
foram os americanos, sem sucesso.
O
fenómeno do Olimpismo Moderno estava a dar as primeiras passadas e as
organizações das primeiras edições manifestaram-se muito aquém do que era
exigido, um começo titubeante, um desempenho organizativo que aos poucos ia
ganhando corpo e atingindo níveis de exigência normais.
Relativamente
à vitória de Michel Teatho e a hipótese colocada de que havia percorrido um
caminho diferente do programado, não pode ser posta fora de hipótese atendendo
a que ele conhecia perfeitamente as ruas de Paris, atalhos que dominava, muito
bem, dizem que devido à sua profissão. Informações dão-no como empregado de uma
padaria, uma mais-valia para ser um conhecedor das ruelas de Paris onde
distribuiria o pão. Esta teoria é afastada por alguém que afirma não ser
padeiro, antes carpinteiro!
Os historiadores Olímpicos André Drevin e
Raymond Pointu ocuparam-se deste problema tendentes a condenar Theato, um facto
que perece nas dúvidas do tempo e nas hipóteses porque também é verdade que
ninguém tem a certeza do que realmente aconteceu.
Relativamente
à naturalidade de Michel, foi confirmado que por altura da realização dos Jogos
de Paris, o luxemburguês deveria estar no serviço militar daí a sua possível
naturalização antes de 1900. De igual modo, o Luxemburgo nunca reivindicou a
vitória ou então eram coisas que passavam à margem da lei.
Relativamente
às acusações de que o vencedor tenha percorrido outro trajeto, a deitar água na
fervura, surgiu o jornalista Frantz Reichel que fez a cobertura da Maratona
para “O Jornal dos Desportos”, afirmando que Michel Theato cumpriu o traçado.
A
completar este cenário apareceu Dick Grant a processar o Comité Olímpico
Internacional por ter sido atropelado por uma bicicleta deitando as culpas para
a organização e alegando que o veículo estava a dar apoio a Theato.
Maratona de Paris 1900 |
Otto
Mayer, representante do COI, confessou-se impotente para resolver este caso
alegando não estar na previsão da organização.
A
suspeita da vitória do luxemburguês continuou para muita gente, em especial
para os anglo-saxões que se inclinavam para o não cumprimento do percurso
oficialmente traçado.
Entusiasmado
com a vitória na Maratona de Paris, em 1900, Michel Theato optou pela
profissionalização uma coisa que parece não ter resultado em virtude da
ausência do conhecimento público de possíveis vitórias. Também não teve uma
vida muito longa, faleceu em 1919 com quarenta e um anos.
Interessante
que só decorridos dois anos é que o Comité Olímpico Internacional homologou a
vitória de Michel Theato.
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