JOGOS OLÍMPICOS DE INVERNO
INNSBRUCK 1964
EUGÉNIO MONTI
Tributo à glória
Instado,
Monti responderia que o afastamento
dos
britânicos iria possibilitar a vitória italiana,
coisa
que não teria valor nenhum porque ele
mesmo
se recusava a lutar contra vencidos!
Nove
vezes campeão mundial e seis medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Inverno,
um dos mais categorizados atletas de bobsleigh, uma modalidade que
dominava e onde conseguiu atingir velocidades incríveis.
Para
além dos seus feitos atléticos. foi campeão do desportivismo, o justo prémio de
um extraordinário comportamento humano protagonizado nos Jogos de Inverno de
Innsbruck, em 1964.
A
título póstumo, seria agraciado pelo Comité Olímpico Internacional com a Medalha
Pierre de Coubertin, a primeira vez que a distinção foi atribuída, um
prémio eternizador da figura do visionário e idealista dos Jogos Modernos, uma
autêntica Comenda que se destina a glorificar quem se evidencie por
nítidas e louváveis atitudes do mais puro Espírito Olímpico. Esta distinção, uma
medalha em oiro maciço, não tem, como objectivo único, premiar o desempenho
técnico e atlético, uma atenção mais centrada nas qualidades humanas,
reveladoras de comportamentos no âmbito da ética desportiva.
O
ser humano em questão, um homem na completa dimensão do termo, o italiano
Eugenio Monti, protagonista de significativos atos, capazes de lançarem o repto
sobre quão difícil será encontrar, no mundo, alguém capaz de algo semelhante!
Aconteceu
na cidade austríaca de Innsbruck, na sede dos referidos Jogos Olímpicos de
Inverno, de 1964 onde Monti era o capitão da equipa italiana na modalidade de
trenó, na especialidade de duplos. Em determinado momento da prova, o italiano
deu conta da existência de uma avaria técnica no trenó britânico de Tony Nash e
Robin Dixon, à primeira vista, um problema de difícil resolução. Constatou que
a correia do trenó estava deteorada, a possível causa de uma hipotética ou
inevitável desistência. Quem presenciou a cena não pode reprimir um sentimento
de plena admiração ou até estranheza relativamente à atitude de Monti que, num
gesto de pura fraternidade, ele mesmo retirou a correia do trenó italiano, o
seu, e a entregou aos britânicos - estes conseguiram resolver a avaria do seu trenó, a tempo de participar na
prova. Tratava-se de uma semifinal para a qual os italianos já se encontravam
apurados.
Inacreditável!
Os
britânicos acabariam por vencer essa série e o ansiado apuramento!
Instado
sobre este procedimento Monti responderia que o afastamento dos britânicos iria
possibilitar a vitória italiana, coisa que não teria valor nenhum porque ele
mesmo se recusava a lutar contra vencidos! E a final iria ditar o que se temia:
os britânicos venceram, conquistaram a medalha de oiro e os italianos de Monti
quedaram-se por um terceiro postos!
Mas
o comportamento de Eugenio Monti não iria ficar por aqui.
Nos
mesmos Jogos, na primeira eliminatória da prova de trenó de quatro, a equipa do
Canadá, favorita à vitória final, teve uma avaria, denotando incapacidade em
resolver o problema. Sem outro motivo que não fosse o sentimento de ajuda, a
equipa de Monti foi em socorro deles e disponibilizou-lhes a sua própria equipa
de mecânicos que, eficaz, ainda conseguiu reparar, a tempo, o trenó.
Um
simples parafuso resolveu a questão!
Conforme
o sucedido com os britânicos na prova de trenó de dois, a equipa do Canadá
conseguiu reparar o seu veículo e ... deslizar para a vitória final, acabando
os italianos por se quedar noutro terceiro lugar, uma medalha de bronze!
Duas
derrotas ou duas vitórias de algo fantástico que ultrapassa a normalidade.
Eugenio
Monti, era natural de Auronzo e seguiu os pais até Cortina d’Ampezo onde
estudou e teve a sua prática desportiva, primeiro com muito sucesso em 1945 nos
campeonatos estudantis e depois, em 1949, já campeão de Itália de ski em slalom
gigante e especial. Apesar de ser uma promessa séria foi obrigado a abandonar a modalidade devido a
uma inesperada lesão, uma rotura de ligamentos, razão porque enveredou pelo
trenó onde chegou a campeão do mundo e olímpico.
Teve
um fim de vida muito triste.
Antes
de ser apanhado pela doença de Parkinson foi nomeado Comendador da República
Italiana, uma das maiores distinções concedidas a um atleta. Teve de suportar
um problema conjugal, a separação da esposa, uma filha que emigrou para os
Estados Unidos, a morte de um filho apanhado nas teias da droga vitimado por
uma overdose e ...ele, condenado pela terrível Parkinson - em 30 de Novembro de
2003 ... o suicídio!
Melhor
sorte merecia.
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