domingo, 20 de agosto de 2023

JOGOS OLÍMPICOS DE SAINT LOUIS 1904

 

ORGANIZAÇÃO:

“A bizarria e o irreal”

 


Era a terceira edição dos Jogos Olímpicos, realizada nos Estados Unidos, na cidade de Saint Louis, em 1904 - também, a terceira vez que um acontecimento daquele tipo, a exemplo das anteriores de Paris, em 1900, e de Atenas, em 1896, iria ficar manchada por uma certa bizarria, relativamente à organização e ao facto de serem integrados na Exposição Universal.

A Maratona foi uma das provas afetadas por alguma confusão e até irregularidade - a mais carismática e a mais nobre, a fechar o calendário organizativo.

Os terceiros Jogos foram, então, destinados para Saint Louis, escolha que se ficou a dever à intervenção de Franklim Roosevelt, Presidente dos Estados Unidos que puxou a organização para aquela cidade, contrariando o projeto de Chicago, cidade para onde estava inicialmente destinada - um dos argumentos invocados foi a realização da referida Feira Mundial de 1904.

A Maratona de Saint Louis foi, assim, disputada sob o signo da jactância, uma série de episódios a ultrapassar o caricato, uma organização que denunciou uma tremenda ignorância relativamente ao fenómeno desportivo - neste caso, a Maratona foi cumprida num percurso muito estranho e irregular - aquele dia 30 de agosto de 1904 foi um autêntico massacre para os trinta e dois atletas oriundos de quatro nações.

A primeira reação emanou do público assistente, há muito, farto de aguardar pela chegada dos atletas, quando precisamente, três horas e treze minutos após a partida, chegou ao Estádio o primeiro atleta, Fred Lorz, um americano, de imediato, aclamado vencedor e até alvo da homenagem de Alice Roosevelt, a filha do Presidente Americano que posou ao lado do pretenso vencedor da Maratona.

Nesse crucial momento da consagração o Estádio abanou com uma notícia que denunciava o atleta Fred Lorz como um batoteiro porque havia sido descoberto - cumprira onze milhas do percurso à boleia de um carro - apenas havia corrido quinze quilómetros e apanhou a dita boleia até faltarem sete quilómetros para o fim da prova!

Fred Lorz

Colocado perante esta acusação Lorz teve a hombridade de confessar o crime sendo de imediato afastado da competição após sancionada a sua desclassificação.






Graças a esse estratagema foi o primeiro a cortar a meta, mas acabou por ser descoberto e assim declarado vencedor o segundo atleta a cortar a meta, Thomas Hicks, um norte-americano de origem inglesa, mas também não isento de acusações relativas a atos irregulares detetados durante o caminho desde a ingestão de produtos estranhos para o tempo, caso do álcool e da estricnina.

Em termos atuai,s a ingestão desses produtos enquadrar-se-ia no fenómeno do doping. Teve início a dez milhas da chegada no momento em que, exausto, anunciou a sua desistência, intenção que foi contrariada pelos amigos que o acompanhavam de perto num carro. Declarou estar exausto, não aguentar nem mais um centímetro! Um novo esforço e uma nova paragem, outra dose de estricnina, desta feita com dois ovos, acompanhada de uma refrescadela de água oriunda de um carro que acompanhava os atletas. Uma nova paragem e uma nova insistência, até à meta. A última dose fez com que o atleta chegasse ao fim do percurso com dez quilos a menos, cambaleando, a dar conta de si, mas com alucinações! Segundo uma declaração médica Hicks correu um grande risco pois uma nova dose de estricnina mais poderia ter sido fatal - cortou a meta amparado por dois homens.

Muitos anos então se passaram até ao momento em que a ingestão de produtos capazes de alterarem as capacidades atléticas e de resistência e assim obter melhores resultados se encontra sob a vigilância apertada da lei antidoping. Estava-se quase a um século de distância desse fenómeno “doping”, numa altura em que decorria uma florescente implementação do Ideal Olímpico, um tempo em que as sucessivas edições dos Jogos iam rompendo os quadriénios previstos.


Thomas Hicks

Os atletas viviam ainda em condições muito precárias de treino e sofriam pressões constantes hoje tidas como ultrapassadas. Em Saint Louis, aquele dia de Agosto, apresentava-se demasiado quente, o ar quieto com ausência total de vento, verdadeiramente quente e húmido. A maratona foi iniciada às 14 horas e 30 minutos sendo o percurso muito duro com um início de cinco voltas ao Estádio Olímpico e a fuga para a estrada em terra batida e com a agravante de alguns automóveis a levantarem mais poeira. A primeira coisa a fazer-se sentir demonstrou a dificuldade dos atletas na respiração, uma prova tão dura que dos trinta e dois corredores, apenas catorze completaram a prova.

Toda a corrida foi um caos com as sucessivas desistências, atletas a vomitar e problemas estomacais, ferimentos por quedas.

Saint Louis 1904

A bizarria e o irreal

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